Os pais pedem, os filhos ignoram. Parece-lhe familiar?
Chega uma altura na vida das crianças em que parece que as ordens dadas pelos pais são desprezadas, praticando uma espécie de audição seletiva.
De repente, qualquer pedido é motivo para resistência.
Se acontece consigo, não se preocupe – quase todos os pais sentem esta frustração, levando a que experimentem sentimentos de exaustão que abalam o equilíbrio familiar.
Para conseguir lidar melhor com estes episódios, damos-lhe algumas explicações para este comportamento e dicas que podem ajudar a reverter a situação.
Por que é que as crianças ignoram os pais?
Primeiro, é importante perceber que, de uma forma geral, este é um comportamento comum no desenvolvimento das crianças e que se manifesta nas situações mais simples.
A necessidade de resistência a ordens, de ignorar, de oposição e de “contra-ataque” não é um comportamento exclusivo das crianças.
É um instinto sentido também pelos adultos que se manifesta quando se sentem coagidos ou controlados.
A diferença é que os adultos já aprenderam as normas necessárias para viver em sociedade, ao contrário das crianças, cuja imaturidade propicia a manifestação desta resistência.
Como qualquer instinto inato, este também tem a sua importância, nomeadamente na formação do “eu” e das próprias opiniões e perspetivas, beneficiando o desenvolvimento integral das crianças.
Porém, há outras razões que podem explicar este comportamento e que os pais devem estar atentos, tais como:
- Rotinas desadequadas e inconsistentes;
- Ansiedade ou stress;
- Dificuldades de aprendizagem;
- Carência de momentos passados em família;
- Sentimentos de baixa autoestima e confiança;
- Ciúmes ou ressentimentos (comum na chegada de novos irmãos, por exemplo).
Geralmente, a necessidade de a criança se opor a ordens e de as ignorar manifesta-se da seguinte forma:
- Desobediência;
- Atitude de desafio, parecendo quase provocatória, questionando ou não aceitando as regras;
- Inflexibilidade/teimosia;
- Irritabilidade;
- Zanga ou perda de calma.
Ainda que seja um comportamento normal em algumas situações, pode procurar aconselhamento profissional se existir um padrão que se repete e prolonga no tempo.

11 dicas de especialistas para lidar com a “escuta seletiva” dos filhos
Perante estas situações, é natural que os pais entrem numa espiral de repetição das ordens, levando muitas vezes à frustração e exaustão.
É importante que saiba, desde já, que não existem fórmulas milagrosas para lidar com o assunto.
Mas há algumas estratégias que os pais podem adotar para ajudar os filhos a moderar atitudes, a respeitar os pedidos voluntariamente e a encontrar alternativas para exprimir as suas vontades.
Desta forma, não só o ambiente familiar será favorecido, como estará a preparar a sua criança para uma vida social mais satisfatória.
Os especialistas em desenvolvimento infantil da Positive Parenting Solutions oferecem alguns conselhos e dicas valiosas que pode começar já a pôr em prática, tais como:
- Crie uma conexão: na hora do pedido, promova o contacto físico através do toque ou agache-se para ficar ao nível da criança e estabelecer contacto visual;
- Evite gritar e repetir ordens: experimente dar tempo para executar o pedido, promovendo a responsabilidade, uma vez que, se repetir demasiado, leva à sensação de imposição, tendo o efeito contrário;
- Seja firme e breve nas ordens: dê indicações diretas e objetivas, como “arruma os brinquedos e vai lavar as mãos” e não só “despacha-te para irmos para a mesa”;
- Experimente perguntar e não mandar: “podes arrumar os brinquedos agora?;
- Substitua o “não” pela tarefa que deseja que a criança realize: por exemplo, “não desças as escadas” por “espera pelos pais”;
- Dê espaço quando a criança está agitada;
- Certifique-se que compreendeu o pedido;
- Ofereça a possibilidade da criança controlar algo, em situações pequenas: escolher o que vestir, por exemplo;
- Clarifique limites;
- Mantenha rotinas e regras consistentes;
- Peça desculpa quando necessário.
É compreensível que os pais percam a paciência uma vez por outra.
Contudo, lembre-se que um dos maiores ensinamentos que pode transmitir é dar o exemplo, mostrando a melhor forma de reagir.
Um último conselho fundamental: escute a sua criança, pois conseguirá estabelecer uma relação de respeito e proximidade que será benéfica em todas as fases.
Comportamentos que os pais devem (mesmo) evitar
Por esta altura, deverá estar a questionar-se acerca dos castigos.
É verdade que, em algumas situações, podem surtir efeito, mas também é certo que podem não ensinar o que se pretende.
Aliás, nenhum pai deseja usar estratégias de punição e medo para conseguir educar os filhos.
Quanto às recompensas por bom comportamento, pode acontecer que a criança molde o seu comportamento por estímulos exteriores e não porque começa a aprender a autorregular-se.
A compreensão é sempre o melhor caminho.
Mas atenção: isto não significa ceder aos desejos, pois é fundamental que perceba que há limites não negociáveis.
A Escola pode ser uma aliada dos pais
O mais importante no desenvolvimento infantil é estabelecer bases sólidas para o futuro, construídas em casa e na Escola.
Neste sentido, quando a sua criança parece não obedecer, procure ajuda junto dos educadores – também eles a observam atentamente e conhecem estratégias que podem facilitar a aprendizagem, além de ajudarem os pais a definir regras.
Na Lua Crescente, a sua criança terá espaço para ser compreendida e há sempre espaço para a comunicação entre a escola e a família. A partir daí, todas as fases serão vividas com maior tranquilidade.