Quando as crianças são muito pequenas, os pais costumam utilizar uma linguagem infantilizada – alteram o timbre vocal e utilizam palavras mais pequenas e simples.
A esta necessidade de alteração da linguagem alia-se ainda uma vertente afetiva: a de transmitir não só a mensagem, mas também um sentimento.
Com o passar do tempo surgem as questões:
- Devo ou não “falar à bebé” com o meu filho?
- Isso pode afetar negativamente o seu desenvolvimento?
- Irá compreender-me se falar normalmente?
Vamos explicar tudo neste artigo.

O papel dos pais no desenvolvimento linguístico da criança
Os primeiros sons que a criança começa a manifestar, semanas após o nascimento, são responsivos relativamente a estímulos que recebe, nomeadamente dos pais. A forma como comunicam com ela, irá condicionar a maneira como se expressa.
Todas as crianças aprendem por imitação, repetindo o que ouvem até aprenderem a falar, mesmo que ainda não tenham desenvolvido a capacidade de associar os sons a objetos ou pessoas.
É principalmente através dos pais que se inicia o processo de aquisição e aperfeiçoamento da linguagem que, na verdade, nunca termina, dado que estamos permanentemente a aperfeiçoá-la.
Como, inicialmente, ainda não conseguem comunicar corretamente, os pais servem-se de uma linguagem e tom mais direcionado às crianças para as atrair para o seu ambiente.
Funciona quase como um código comunicativo próprio e único – não é por acaso que, muitas vezes, apenas os próprios pais percebam o que dizem.
Esta alteração comunicacional acontece sempre, independentemente do idioma falado, conforme demonstrado por especialistas americanos.
Falar como um bebé – benéfico ou prejudicial?
Ainda que, geralmente, uma voz melodiosa e arrastada desperte mais interesse na criança, prolongar demais a fala infantilizada pode não ser benéfico.
Não existem estimativas de tempo concretas em relação ao arrastamento da voz, mas não deve ser um padrão.
Os pais devem estabelecer limites e pensar com bom senso – mesmo que seja amoroso, o mais importante é que a criança consiga desenvolver as suas capacidades normalmente.
Incentivar este tipo de linguagem pode condicionar a sua evolução, uma vez que irá assumir que está correta. Afinal, imita o que ouve, pois encontra nos pais um modelo a seguir.
Este comportamento pode traduzir-se em dificuldades de dicção, principalmente em palavras com as letras “r” e “l”, e de construção frásica, sendo incapaz de formar frases mais longas e complexas.
É esperado que, com o passar do tempo e ajuda dos pais, a criança abandone estes hábitos.
Ainda assim, é importante ter consciência de que cada criança se desenvolve ao seu próprio ritmo – no aprender a andar, no deixar a fralda e, evidentemente, também na linguagem.
O que fazer para ajudar a desenvolver a fala?
No discurso com as crianças, os pais podem pôr em prática algumas diretrizes que servirão como catalisadores da aprendizagem da língua, permitindo que evoluam e enriqueçam o seu vocabulário. São elas:
- Dar o exemplo ao falar corretamente;
- Não repetir a palavra errada e não a tornar numa diversão;
- Corrigir os erros de dicção e construção frásica;
- Evitar demasiados diminutivos;
- Incentivar para que se expressem de forma correta;
- Responder às questões, estimulando o debate de ideias;
- Evitar palavras substitutas (como “piu-piu” em vez de pássaro);
- Não antecipar nem interromper;
- Falar calmamente e sem pressas;
- Explicar o significado de algo que não entendam;
- Articular muito bem as palavras.
Mesmo que, inicialmente, não compreendam o discurso correto, com o passar do tempo vão evoluir naturalmente e o processo comunicativo torna-se mais fluido e natural.
É importante ter consciência que o processo é longo e complexo. Embora a consistência seja importante, pode não ser benéfico reprimir e corrigir em demasia – a criança pode sentir-se inibida a explorar a sua própria capacidade.
Sinais de que a criança precisa de acompanhamento
O facto de uma criança começar a falar corretamente mais tarde não significa que apresentará limitações em todas as fases do seu crescimento. Regra geral, acaba por desenvolver a sua capacidade linguística, mais tarde ou mais cedo.
Ainda assim, existem casos que requerem mais atenção e acompanhamento, que podem ser identificados através de alguns sinais, tais como:
- Discurso impercetível;
- Produção de sons diferentes do esperado;
- Fala demasiado imatura para a idade;
- Não reconhece o nome de vários objetos.
Se a criança manifestar estas limitações, a opinião de um especialista é importante. Quanto mais precocemente ocorrer a intervenção, maior a probabilidade de prevenir o agravamento e a criação de novos problemas.
Creche: um lugar onde a evolução vem em primeiro lugar
Quando a criança está na Creche, é estimulada a enriquecer a sua capacidade comunicativa, fruto da interação constante.
Além do mais, as educadoras representam um papel fundamental na identificação de possíveis dificuldades de desenvolvimento.
Na Lua Crescente, entendemos que corrigir os erros leva à evolução. Uma atitude atenta e consciente contribui para um desenvolvimento saudável e equilibrado.
O trabalho desenvolvido na Creche deve ser complementado em casa, e vice-versa. Só assim a criança será estruturada o suficiente para ultrapassar as dificuldades com sucesso.